É surpreendente a falta de sintonia
entre Estado e sociedade. A observação vem a propósito do descaso com
brasileiros que apresentam necessidades especiais. Até a metade do século
passado, as famílias privavam adultos e crianças da convivência com estranhos
porque sentiam constrangimento de exibi-los. Mantinham-nos longe das ruas, da
escola, das atividades artísticas e esportivas.
Os movimentos libertários que marcaram o século 20 levaram à mudança da
mentalidade tacanha, preconceituosa, cruel e injusta. Hoje ninguém duvida do
direito de deficientes físicos ou mentais. Eles precisam de ambiente propício
para se locomover, estudar e desenvolver a sociabilidade plena. Inclui-se aí a
prática de esportes e de habilidades artísticas. O lazer não pode ser esquecido.
Apesar de reconhecidos, os direitos permanecem no papel. Não transpõem a
ponte que une a teoria à prática. Para os que fogem do padrão geral, é tudo
difícil. É difícil circular na cidade. Os ônibus não estão equipados com
degraus adequados ao embarque e desembarque de cadeirantes e pessoas com
dificuldade de ir e vir. Faltam sinais sonoros capazes de informar a cegos o
momento de atravessar a rua.
Não só. As calçadas cheias de obstáculos retratam a insensibilidade
diante do drama humano que atinge milhares de pessoas. Há moradores que
transformam o espaço público em canteiro de flores ou lugar para acomodar vasos
de plantas. Com a medida, esperam impedir que motos ou carros estacionem no
local. Ocorre que, com a iniciativa, punem os legítimos usuários - os
pedestres.
Mais: faltam rampas. Mesmo prédios novos não demonstram o necessário
cuidado de facilitar o vaivém dos que dependem de bengalas, muletas ou cadeiras
de rodas. A luta, porém, não se restringe à locomoção. Atinge o elementar
direito de avançar nos estudos. Dados do Censo de Ensino Superior elaborado
pelo MEC informam a existência de 2.173 alunos com necessidades especiais
matriculados em universidades - 1.135 em instituições públicas e 1.038 em
particulares.
Há o número. Mas faltam especificações. Não se sabe que tipo de
necessidades eles apresentam. Tampouco há políticas inclusivas. Faltam ações
efetivas de formação de professores aptos a atender o público especial.
Providências urgentes se impõem. Há que, além de garantir a mobilidade, assegurar
políticas educacionais com foco específico no cidadão que não só precisa, mas
tem direito de usufruir dos serviços de qualidade assegurados aos brasileiros.
Correio Braziliense – DF (06/03/2012)
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