Na
abertura do II Encontro do Movimento Pedagógico Latino-Americano,
que reúne aproximadamente 700 educadores da América Latina e do
mundo em Porto de Galinhas, no Recife, o presidente da CNTE, Roberto
Leão, falou sobre os desafios que os educadores do continente
enfrentam e da importância do debate para a construção de um
alinhamento pedagógico conjunto.
"Precisamos
construir uma pedagogia independente que seja realmente libertadora
dos povos da América. Todos os países do continente tem uma
história de muita luta e determinação, que sem dúvida contribuem
para o nosso objetivo que é chegar a uma América justa",
afirmou Leão.
O
presidente da CNTE lembrou que 2013 marca os 50 anos da experiência
de Paulo Freire em Angicos, no Rio Grande do Norte, quando o
professor alfabetizou 300 trabalhadores em 40 horas, considerada como
marco do método Paulo Freire, uma alfabetização que, sobretudo,
ajudava o aluno a pensar o mundo.
"Ele
pôs em prática uma maneira de alfabetizar que fazia com que as
pessoas que viviam marginalizadas tivessem acesso a uma forma
bastante simples, mas não mecânica, que conscientizava as pessoas,
se libertassem, deixassem de serem adestradas para serem pessoas
capazes de ser protagonistas do seu destino", disse Leão.
Estados Unidos e Suécia compartilham experiências no Movimento Pedagógico Latino-Americano
- Ultrapassando fronteiras regionais, o segundo dia do Encontro do Movimento Pedagógico Latino-Americano contou com relatos de experiências de sindicatos dos Estados Unidos e Suécia.
Lily
Eskelsen Garcia, vice-presidenta da NEA – National Education
Association e Louis Malfaro, vice-presidente da AFT – American
Federation of Teachers, ambos dos Estados Unidos, falaram sobre a
situação atual da educação americana e como ela se relaciona com
a realidade da América Latina. Lily lembrou que todos os educadores
precisam estar juntos na luta, conscientes sobre qual caminho tomar.
"Globalização, privatização, padronização, devemos lutar
contra as mesmas lideranças do mundo que querem transformar nossas
escolas numa grande empresa, o maior pesadelo de Paulo Freire",
afirmou.
Segundo
Louis Malfaro, a educação nos Estados Unidos está sofrendo
pressões econômicas e sociais que tornam cada dia mais difícil a
atuação do professor. Escolas estão fechando em Chicago,
Filadelfia e muitos outros estados, professores estão sendo
demitidos, programas estão sofrendo cortes e disciplinas como arte e
história tem sido eliminadas do currículo.
"Os
professores se sentem desmoralizados e estamos avançando para uma
realidade que vocês conhecem bem. Os sistemas escolares estão cada
vez mais precários e contam cada vez menos com o apoio dos governos.
Essa moda dos testes de desempenho é outro problema. Estamos
convencidos de que o melhor a se fazer para melhorar a educação é
valorizar os professores e toda a comunidade escolar", disse
Louis.
Ina
Eriksson, do sindicato de trabalhadores em educação da Suécia
(Lararforbundet), lembrou que os eixos temáticos que estão sendo
discutidos no Movimento Pedagógico são questões que trazem grande
inquietude e são as mesmas que eles discutem no seu país. "Como
diz aquela canção, o espírito do nosso trabalho é ser um eterno
aprendiz. Por isso sempre acompanhamos esses debates e queremos saber
como podemos construir o currículo escolar para defender o futuro
das crianças que tem o direito de se desenvolver plenamente",
finalizou Ina.
Emir Sader: “a educação precisa ser atraente para os jovens”
O
convidado do dia, o professor, sociólogo e doutor em ciência
política Emir Sader, defendeu uma educação emancipadora, que
combata a alienação. Para Emir, é fundamental que a escola seja
capaz deoferecer ao
aluno uma compreensão subjetiva e objetiva do mundo.
O
pesquisador lembrou que, no sistema capitalista, o trabalhador
constrói a riqueza do planeta mas não decide o seu destino e não
se reconhece nela. Sobretudo, a educação precisa atrair os jovens,
que se veem tão afastados do modelo de ensino atual.
O
presidente da Internacional da Educação para a América Latina, o
argentino Hugo Yasky, celebrou a oportunidade de consolidar o
movimento pedagógico latino-americano na terra de Paulo Freire e fez
um balanço dos desafios que os educadores enfrentam na região, como
governos opressivos, caso da Colômbia, que continuamente ameaça
educadores e representantes do povo, caso da senadora Gloria Ramírez,
presente no encontro da Rede de Trabalhadoras para a Educação, que
antecedeu o encontro.
"A
docência deste continente está de pé neste momento. Este é o
ponto mais alto dos trabalhadores da educação da América Latina. A
resistência que tivemos que ter, passando por ditaduras e pelos
governos neoliberais da década de 90, nos coloca num momento
favorável para consolidarmos a democracia e lutar por mais igualdade
social, um avanço que conquistamos na luta", afirmou Hugo.
Na
essência do Movimento Pedagógico Latino-Americano está o objetivo
de propor uma educação que seja integral, liberadora, inclusiva,
solidária, com equidade de gênero, laica, gratuita e garantida pelo
Estado como um direito social.
"Diferente
dos anos 90, em que apontavam que o problema não era a falta de
recursos, mas a eficiência da aplicação desses recursos,
encontramos agora um discurso de que as verbas são insuficientes e
precisamos obter mais capacidade de investimento público para
garantir o acesso pleno à educação", afirmou.
Só
assim, afirma Abicalil, é possível superar a manipulação do
cidadão e a concorrência massiva dos meios de comunicação que
costumam tomar a maior parte do tempo da vida do aluno, como a
televisão e a internet, que podem deixar a escola em segundo plano.
"Precisamos
ser protagonistas de uma época, reivindicando uma sociedade
democrática, o diálogo público e também o protesto. A mudança
sempre opera mais lentamente do que desejamos. É fundamental
criarmos estes espaços de análise e não termos medo da mudança,
passo importante para superar o clientelismo", finalizou.
- Publicado no Site da CNTE em Setembro 2013 .
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